Em fevereiro, a ANFAVEA revelou a intenção de solicitar ao Governo o fim da isenção dos impostos de importação para veículos elétricos. Hoje, o debate continua intenso no setor. O Portal Movilidad conversa com os participantes da indústria.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) espera que o Governo Federal anuncie até o final de setembro o fim da isenção de impostos para a importação de veículos elétricos e híbridos.
A medida impactaria diretamente a importação de veículos leves, como carros elétricos e híbridos, caminhões e ônibus.
O valor dos impostos deve voltar a ser de 35% sobre o preço dos veículos, aplicado anteriormente até 2015.
Será levado em conta para unidades de países que não têm acordo comercial com o Brasil, como Mercosul e México, e será implementado gradualmente nos próximos três anos.
O pedido a ser discutido na Comissão de Assuntos Econômicos foi debatido anteriormente na comissão da ANFAVEA, que tem 26 membros associados.
A razão para a retirada da isenção seria a competitividade das marcas chinesas que estão ganhando espaço no Brasil, ao que o representante da ANFAVEA argumenta: “Há uma invasão de produtos asiáticos, principalmente da China, na América Latina”.
Arthur Carneiro Neto, analista de mercado automotivo e consultor do Grupo Primavia, empresa que comercializa veículos da Fiat, Nissan, Jeep, Renault, RAM, Dodge, Chrysler, Peugeot, Citroen e Ventura Marine, disse ao Portal Movilidad:
“Olhando friamente, acho um grande retrocesso”.
Na mesma linha, Wanir Souza, consultor de negócios e atendimento ao cliente no setor automotivo, explica ao Portal Movilidad:
“As vendas até agora neste ano já superaram as de todo o ano de 2022, mas se for aprovado o retorno do imposto de importação de 35%, os preços dos veículos eletrificados, que já são altos, se tornarão impraticáveis e muito superiores aos preços dos veículos similares a combustão, tornando-os menos competitivos”.
E acrescenta: “É um mercado que tem tudo para crescer, mas temos barreiras a enfrentar, que são, em primeiro lugar, a questão do preço, que, se aumentar com o novo imposto de importação, será ainda mais acentuado”.
Ocorre que, hoje, as importações de marcas chinesas explicam o aumento da participação dos veículos produzidos nesses países no mercado latino-americano e também a queda das exportações brasileiras.
Em outras palavras, a expectativa do imposto de importação sobre o segmento motivaria as empresas a produzirem veículos elétricos no Brasil, e é pertinente mencionar que ainda não há empresas locais fabricando veículos elétricos.
Em relação ao segmento de veículos como ônibus elétricos, Miguel Angelo Pricinote, Subsecretário de Políticas para Cidades e Transporte do Governo de Goiás, disse ao Portal Movilidad:
“A oneração das importações pode proteger a indústria automobilística nacional da competição estrangeira, mas também pode inibir a inovação e o avanço tecnológico, uma vez que as empresas locais têm menos incentivos para melhorar seus produtos”.
E acrescenta: “A imposição de tarifas ou restrições pode proporcionar proteção temporária, mas, a longo prazo, a dependência contínua dessas barreiras comerciais pode criar um setor menos competitivo e menos preparado para enfrentar a concorrência global quando as barreiras forem removidas”.
Outras vozes também deram sua opinião. Esse é o caso da BYD, líder de vendas em agosto no mercado de carros elétricos.
A montadora chinesa criticou a posição da entidade que representa os fabricantes locais, a ANFAVEA.
A informação é da Reuters, que entrevistou Alexandre Baldy, assessor especial e porta-voz da BYD no Brasil, onde o executivo foi bem claro ao condenar a declaração sobre um assunto ao qual ele alega: “Ainda não está decidido”.
Marcas chinesas batem recordes de vendas do elétricos
Nesse caso, o recorde está se aproximando rapidamente da marca histórica de 10.000 unidades somente em agosto.
O crescimento nos últimos meses foi fortemente impulsionado pelas marcas chinesas, como BYD, GWM e CAOA Chery, que têm sido agressivas no lançamento de novos modelos e anunciaram investimentos no Brasil.
A CAOA Chery vendeu 1.711 unidades, a BYD 1.454 e a GWM 1.451 entre os segmentos eletrificados.
A participação dos veículos plug-in (BEVs e PHEVs) no total de vendas de veículos eletrificados foi de 52% em agosto (4.874 veículos), um pouco maior do que a soma dos HEVs e HEV flex, que foi de 48% (4.477 veículos).
Entre os modelos eletrificados mais vendidos dos principais fabricantes chineses em agosto estavam o Song Plus GS Dm da BYD (761) e o Dolphin G (371).
Da CAOA Chery, o Tiggo 8 (691), o Tiggo 7 PRO HA (361) e o Tiggo 5X PRO HA (294).
Da GWM, a linha Haval H6 (520), o Haval H6 GT (519) e o Haval H6 Prem (412).
O Brasil tem 49.052 veículos leves eletrificados registrados no primeiro semestre de 2023, quase o mesmo número que em todo o ano anterior.
A participação de mercado dos veículos eletrificados cresceu consideravelmente e, em agosto, atingiu a marca histórica de 4,75% do total de registros de veículos leves no mercado nacional.
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